A vingança do corpo

Todo mundo desconfia de remédio milagroso. Com razão: cedo ou tarde, descobrimos que o milagre não é tão mágico assim. A droga para emagrecer tinha efeitos colaterais de arrepiar o cabelo, a margarina que não eleva o colesterol pode dar câncer. E por aí afora.

A vingança da tecnologia, de Edward Tenner, é um livro cuja permissa é de que a tecnologia, cedo ou tarde, literalmente se vinga. Cria um problema bem maior do que aqueles que resolveu. O uso da informática trouxe uma nova coleção de doenças, mais insidiosas e difíceis de detectar. Dores nas costas e no pescoço, tendinite, lesão por esforço repetitivo e cansaço visual são alguns dos problemas a que estão sujeitos todos que passam horas ao computador. As rede sociais, vídeo conferências e e-mails que reduzem a necessidade de reuniões e deslocamentos físicos, o que em alguns casos contribui para o excesso de trabalho sem interrupção e para o isolamento psicológico.

No caso dos computadores, medidas simples como o uso de móveis adequados já surtem efeitos em muitos casos. Infelizmente as pessoas só se preocupam em mudar a postura quando começam a sofrer as consequências de longas horas de trabalho diante de uma tela. É que as inovações estão sendo adotadas com muita precipitação e miopia, com um olho na produtividade a curto prazo e outro na economia imediata. A vingança que parece ser da tecnologia, no fim das contas, é bem humana.

Fonte: Folha de S. Paulo / Maria Ercilia.