24 novembro 2009

Mulher ao Espelho


Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Cecília Meireles


As imagens, textos e poemas deste post., estão hospedados na própria Internet. Caso alguém sinta- se lesado pela não citação da autoria, basta fazer contato que daremos os créditos ou tiramos à postagem do ar. Desde já, agradecemos à compreensão e colaboração de todos. Obrigada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo poema, grande Cecília captou a coragem ou a falta "de" olhar-se no espelho com perfeição.
bjos no coração.
c. Pedra

Unknown disse...

Esta mulher dá show! Vai conhecer meu blog "um pouquinho de cada coisa...".Clica e vai lá!Tá bonzinho.bjs

Postar um comentário