12 agosto 2009

À BOCA FECHADA


O Poema de José Saramago à boca fechada

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se, se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Tem todo a ver com o silêncio!! Muito bom!!Ka

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